Com os copos

Nem toda a gente sabe — mas devia saber — que as nossas mais amadas bebidas destiladas, bem assim como as mais odiadas, são necessariamente produzidas a 70, 80 e até 90 graus. Só depois, para baixar o teor do whiskey, gin, rum ou da vodka para os 40 graus convencionados, é que se acrescenta água. É, de facto, de uma convenção arbitrária que se trata, tal como acontece com as cilindradas dos automóveis e o IA: é uma questão muito mais política e fiscal do que gastronómica. Graças à excelente moda dos whiskeys de malte de teor original (cask strength), engarrafados tal e qual saem do barril, muitos consumidores tomaram conhecimento desta patranha. Ao provar um whiskey como veio ao mundo, mesmo depois dos sedentos anjos terem sorvido a parte deles (é assim que os destiladores descrevem a evaporação natural) compreende-se que a água é perfeitamente dispensável.

- Miguel Esteves Cardoso

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